Texto: Rodrigo Melo
A arquitetura é o único meio de que dispomos para conservar vivo um laço com um passado ao qual devemos nossa identidade, e que é parte de nosso ser. A arquitetura tem um grande poder para ultrapassar o tempo do homem, nela podemos projetar o que acreditamos e como uma sociedade vive, quando sabemos isso, debater sobre Patrimônio sempre será de grande importância para a arquitetura e a sociedade. A cidade sempre vai nos propor a refletir sobre passado e pensar naquelas pessoas que viviam nesse lugar antes de nós, o patrimônio é pensar nas pessoas pois são elas que se apropriam e fazem o lugar e sem elas não existe o valor na memória.
“O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.”
Fernando Pessoa.
Flanar em Fortaleza é maravilhoso, ver e analisar suas praças pensar como foram projetadas, por isso nosso estudo de extensão na faculdade Faece no curso de Arquitetura e Urbanismo é sobre as praças de fortaleza e sua importância história, e por mais que paqueremos os prédios e construções do nosso passado a pesquisa tem peso nas praças e seu entorno.
São nessas praças que pessoas vivem inteiramente cada lugar é também na praça que desaceleramos o ritmo do Centro, para aqueles que precisam de tempo para pensar, comer ou até mesmo visitar um lugar em seu entorno, como a praça do Ferreira e seu São Luís onde acontecem seus espetáculos populares. Em cada praça do Centro temos suas histórias, e a vivência do povo que faz com que essas praças sejam únicas.
A praça era um largo. “Em dezembro de 1842 uma lei da Assembleia Provincial autoriza uma reforma do plano da cidade, eliminando dela a rua do cotovelo a fim de ficar ali uma praça que se dominará Praça Pedro II”. Boticário Ferreira foi eleito Presidente da Câmara no ano seguinte, posto que ocupou até falecer em 1959.
A praça tomou os nomes de:
Feira Nova: Lugar onde se realizavam as feiras semanais, deslocando o Centro da cidade da praça da Sé, para o novo logradouro.
Largo das Trincheiras: não se sabe bem se foi por uma batalha entre Holandeses e Portugueses, ou por causa do nome de um Senador que vivia ali e se apelidava de “Trincheiras”.
Pedro II: Em 1859, em homenagem ao Imperador.
Do Ferreira: Em 1871, após a morte do Boticário Ferreira, como memória aos relevantes serviços prestados à cidade.
Municipal: Este nome durou somente seis meses, retomando ao seu nome anterior. Além dessas denominações oficiais também era popularmente conhecida por “Da Municipalidade”, por estar defronte do prédio da Independência Municipal.
A praça sofreu uma série de reformas ao longo do tempo. As mais significativas foram a construção do jardim 7 de setembro em 1902, época em que existiam na praça cinco quiosques denominados: escritório dos Bondes, Café do Comércio, Café Iracema, Café elegante e Café Java, sendo este o último o mais antigo (1886) e que se constituía o principal ponto da reunião dos intelectuais da Padaria Espiritual.
Em 1914 se reforma a praça e se realiza a iluminação com cabos subterrâneos.
Em 1920 são demolidos os quiosques e é construído o célebre coreto, considerado na época o coração cívico da cidade.
Em 1932, se demole o coreto e se constrói no seu lugar a “Coluna da Hora” com seu relógio que servia de orientação a toda a cidade, sua inauguração foi a princípios de 1934.
Em 1949, no local onde fora o velho prédio da intendência Municipal e construiu o “Abrigo Central”. Situava-se ao norte da praça e nele existiam boxes de vendas de discos, selos, livrarias, bilhetes lotéricos, tabacarias, cafés etc. Servia também de ponto inicial das linhas de ônibus, transformando-o em um lugar dos mais movimentados da cidade. Foi demolido em 1968 e também a coluna da hora. Na última reforma em 1991 recuperou a praça e a coluna da hora em versão de uma arquitetura moderna, a coluna da hora que também apelidada pelo cronista Caiu Sítio de calúnia da hora já que nem sempre dava a hora exata.
“Memória é algo muito forte e encrava em nossos corações como uma cicatriz, às vezes doída e outras vezes somente para lembrar que existe”.
Melo.
Lembro do tempo que criei essa memória afetiva da praça do Ferreira, quando criança eu, minha mãe e meu irmão vivíamos indo nessa praça, muitas vezes esperando meu pai sair do trabalho e outras vezes quando íamos na “rua” como diz minha mãe, comprar roupas ou as vezes brinquedos, gibis ou livros, lembro-me que era um tempo muito feliz. Todos os natais iamos na praça ver as crianças cantarem, e no alto do edifício excelsior víamos o papai Noel, surgindo em uma janela ou outra de uma criança que ali cantava, como essa praça para mim é importante, toda sua arquitetura de gabarito e seus prédios antigos trazem em mim uma sensação única como se eu fosse abraçado pelo passado. Algumas vezes eu e meu amado irmão caçula íamos muitas vezes tomar café da manhã na padaria Duda´s que ficava onde hoje é padaria Romana, viver o local me traz lembranças maravilhosa de um passado que está fixado nas construções antigas dessa praça, mas não só a minha como a de muitas pessoas acredito eu. Como futuro arquiteto acredito que a preservação de um passado não está só em um passado muito antigo, mas também nas memórias recentes que criamos e vivemos nesses espaços.
Referências:
Livro: Fortaleza Centro: Guia Arquitetônico / José Capelo Filho e Lídia Sarmiento Garcia – Fortaleza, 2006.
Livro: Silva Filho, Antônio Luiz Macêdo e. Fortaleza: imagens da Cidade. 2. Ed. Fortaleza Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do estado do Ceará, 2004.