Texto: Rodrigo Melo
Quando iniciamos o projeto de extensão, não imaginava o impacto que os estudos sobre a cidade teriam em mim. Conhecer a história de Fortaleza por meio de suas construções e entender a importância do patrimônio arquitetônico para a memória coletiva me fez perceber como esses elementos narram a história do nosso povo.
Sempre tive curiosidade em imaginar como alguns lugares eram no auge de sua construção e como as pessoas que ali viveram eram vistas pela sociedade. Isso me leva a refletir sobre as diferenças entre as construções de antigamente e as que temos hoje, assim como sobre os materiais que, outrora amplamente utilizados, já não são mais empregados. É evidente que nossa forma de entender a cidade mudou ao longo do tempo, influenciada pela tecnologia e pela evolução dos métodos de construção. No entanto, me pergunto o que perdemos nessa trajetória. Na minha perspectiva, parece que cada vez mais nos afastamos da preocupação com a qualidade na maneira de construir, vivendo em uma era marcada por
soluções plásticas e de pouca durabilidade.
Nesse contexto, gostaria de expressar minha profunda gratidão à professora Tinally Carneiro, que abraçou meu ponto de vista sobre a cidade e, com toda sua sabedoria, contribuiu para meu desenvolvimento pessoal e profissional como arquiteto urbanista. Seu apoio foi fundamental nesse processo.
“Os patrimônios são as pessoas. ”
— Prof. Tinally Carneiro
Nossa pesquisa se concentra nas praças do centro da cidade de Fortaleza e em sua importância, sempre considerando as pessoas que formam esses lugares verdadeiramente significativos. São elas que criam as memórias associadas a esses espaços. Para mim, a Praça do Ferreira é um exemplo marcante desse pertencimento.
Lembro com carinho de momentos passados ali, quando eu e meus irmãos aguardávamos meu pai sair do trabalho, enquanto nossa mãe estava conosco. Brincávamos de esconde-esconde, escondendo-nos atrás dos bancos e das barracas. Eram momentos de pura felicidade, e isso faz da Praça do Ferreira um lugar muito especial para mim. Acredito que todos nós temos um espaço assim em nossas memórias, e é por essas lembranças que conferimos importância às construções.
A memória é, de fato, intrinsecamente ligada ao patrimônio arquitetônico, especialmente no contexto das praças de Fortaleza. Essas estruturas não são apenas marcos físicos; são portadoras de histórias, vivências e emoções que se entrelaçam com a identidade da cidade.
Estudiosos, como Maurice Halbwachs, enfatizam que a memória coletiva é moldada pelos espaços que habitamos. As praças de Fortaleza, como a Praça do Ferreira e a Praça José de Alencar, servem como cenários de encontros, celebrações e até mesmo resistência cultural. Cada canto, cada banco e cada árvore carrega fragmentos das histórias dos fortalezenses, desde as brincadeiras infantis até os encontros políticos.
Portanto, ao preservarmos essas praças, não estamos apenas protegendo a arquitetura; estamos valorizando a memória viva de uma comunidade. O patrimônio arquitetônico torna-se, então, um testemunho das relações humanas e das narrativas que moldam nosso senso de pertencimento e identidade. Fortalecer essa conexão é essencial para construir um futuro que respeite e celebre nossas raízes